terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

MÃE BÚFALO BRANCO

Há na espiritualidade a tradição de termos 4 Grandes Mães, representantes da Deusa Mãe. Entre nós a mais conhecida é Maria, mãe de Jesus, tãso venerada principalmente na igreja católica. A Mãe Kwan Yin, que dirige o Rádio Rosa-Violeta da Compaixão e Misericórdia, Mãe Palas Atena, Deusa virgem, padroeira das artes domésticas, da sabedoria e da guerra e a Mãe Búfalo Branco, do povo vermelho, que apareceu primeiramente para a tribo Lakota. 
 
No livro "O Retorno da Tribo dos Homens Pássaros". Autoria de Ken Carey ,transcrevemos aqui um trecho que conta uma das história da Mãe Búfalo Branco 
 


” Ela vinha das estrelas. Vinha para muitas tribos, embora cada uma a conhecesse por um nome diferente. Vocês talvez a tivessem visto como a viram pela primeira vez os dois jovens caçadores da tribo Sioux, caminhando descalça e devagar, como uma visão, através das mansas colinas da pradaria. Eles haviam subido no topo de uma dessas colinas em busca de caça, em busca de algum sinal de movimento naquele mar de relvas ondulantes. Ao longe, no horizonte, tinham avistado algo que observavam com atenção. Quando o vulto desapareceu atrás da colina à sua frente, estavam quase seguros de que se tratava de um vulto humano. 
 


Retendo o fôlego, eles esperavam. Por fim, bem no alto da colina, apareceu uma moça maravilhosa trajando vestes feitas de pele de corça branca, enfeitadas com desenhos primorosos executados com espinhos de ouriço. Levava a tira-colo uma sacola de pele. Uma pena de águia, trançada nos seus longos cabelos negros, reluzia à luz do sol. O primeiro dos bravos guerreiros, impressionados por sua extraordinária beleza, exclamou dando voz no seu desejo de acasalar-se com ela ali mesmo no chão da pradaria, ao calor do sol. 
 


“Esqueça”, falou o segundo guerreiros. “É uma mulher sagrada, uma visão talvez, que certamente jamais deve ser abordada dessa maneira”. Mas, para sua surpresa, a mulher de branco sorriu ao primeiro guerreiro e disse: ”Venha. Você terá o que deseja”. 
 


O segundo guerreiro, sentindo-se só e abandonado na pradaria, observa seu irmão, afastar-se com a misteriosa mulher, e pela nuvem de pó que, por um tempo, os envolveu, pareceu-lhe estar em total deleite. Quando o pó assentou, o bravo solitário viu a mulher recompondo suas vestes. A seus pés jazia um corpo em parcial decomposição, cobertos de vermes e besouros e de uma nuvem de moscas. 
 


Foi então que a Mulher-Novilho-do-Búfalo-Branco, que era a forma na qual o Grande Espírito tinha vindo para ensinar ao povo das planícies – falou ao jovem bravo, que agora estava só: “ O homem que olha primeiro a beleza exterior de uma mulher, nunca conhecerá sua beleza divina, pois há um pó em seus olhos e ele é como um cego. Mas o

homem que vê na mulher o espírito do Grande Ser e que vê primeiro a beleza de seu espírito e sua verdade, esse homem conhecerá a Deus nesse mulher; e se ela quiser se

deitar com ele, esse homem compartilhará com ela um prazer mais pleno do que jamais poderia acontecer ao primeiro homem. E tudo será como deve acontecer. 

 


“Você quando me olhou, não ficou cego com a minha beleza, mas seu primeiro pensamento foi: “Quem é esta linda mulher? O que faz brilhar tão intensamente seu semblante ao sol da tarde? Que pensamentos são esses que dançam no fundo de seus olhos? De onde vem ela? Quais notícias traz?”. 
 


“Então meu jovem amigo, não tenha medo. Você também terá o que deseja.

“Você e seu amigo simbolizam dos caminhos que os homens da tribo podem tomar. Se procurar primeiro a sagrada visão do Grande Espírito, estará vendo na mesma forma que o Criador, e por isso você saberá que aquilo que necessitar da terra sempre chegará às suas mãos. Mas se preferir primeiro, esquecendo o espírito, satisfazer seus desejos terrenos, você morrerá por dentro. 
 


“Em outros tempos, a maior parte dos homens tomava o seu caminho, mas neste, muitos estão seguindo o caminho do irmão caído. O que você viu na nuvem foi uma aceleração da vida; seu irmão viveu muitos anos naqueles momentos em que você via apenas um redemoinho de pós. Para ele não foi tão mal quanto você imagina. Ele viveu uma vida que muitos nesta época de esquecimento, diriam até que foi “boa”. Contudo, ele sempre foi dominado pelas paixões. No fim, o corpo dele voltou ao pó, pois todos os seus pensamentos eram pó. Ele esqueceu não só o Grande Espírito, mas também o seu próprio espírito. Ele não contribuiu em nada de significativo nem para mim, nem para as mulheres em geral, nem para o povo das planícies.” 
 


Foi então que o jovem caçador perguntou à mulher quem era ela.

Por um momento, como seus olhos negros como poças de trevas entre as estrelas, ela olhou fundo nos olhos do jovem caçador como se o seu próprio olhar fosse a resposta. 
 


“Eu sou o Espírito da Verdade”, ela respondeu afinal.

“O seu povo me conhece com a Mãe dos Mais Velhos; mas como você mesmo pode ver, não sou tão velha assim. Não tenho mais idade do que qualquer folha de relva ou do que qualquer flor do prado. Sou a Grande Mãe que vive dentro de cada mãe, a moça que brinca em cada criança. Sou a face do Grande Espírito que seu povo esqueceu. Vim para falar à nação das planícies. Vá adiante de mim à sua aldeia. Diga para seu cacique para preparar uma grande taba que acomode o povo de seu acampamento. Chegarei breve. Tenho algumas coisas a ensinar, coisas sagradas que sua tribo esqueceu.” 
 


Tomado por grande espanto, ansioso, o jovem caçador correu ao seu povo e contou ao cacique sobre o que vira. O cacique da tribo desse jovem chamava-se Chifre-Oco-em-Pé, nome que em outros tempos, nenhum cacique teria dotado, pois definia ostensivamente a futilidade e a bravata típicas de um grande número de homens das planícies. No entanto, Chifre-Oco-em-Pé não era um homem inconseqüente, não era um homem mau. Após ouvir o jovem, pôs-se a trabalhar junto aos outros na construção de uma grande taba, coberta de muitas peles, na qual todo o povo do acampamento pudesse se reunir, pois o clima naquele início de ano, muitas vezes, era de tempestade ao anoitecer, e Chifre-Oco-em-Pé não queria que o povo dispersasse durante os ensinamentos de alguém que ele suspeitava ser a mãe das estrelas. 
 


Quando viram Mulher-Novilha-do-Búfalo-Branco aproximar-se da pradaria, ficaram atônitos. Esperavam alguém de mais idade. E ela parecia uma donzela, graciosa como a relva que se movia em torno dela no crepúsculo. Seu rosto brilhava como uma luz, que falava de flores selvagens, de agrião e das mais finas ervas. 
 


À medida que vinham atravessando a aldeia, muitos bravos tiveram pensamentos iniciais como os do irmão caído. Mas já sabiam o que lhe havia acontecido e qual havia sido o seu destino, e disciplinaram seus pensamentos, o que para alguns era novidade. 


 


Descalça, como sempre andava nas suas viagens pela terra. Mulher-Novilha-do-Búfalo-Branco entrou na taba de muitas peles. Sua veste de pele de corça branca irradiava a presença do seu espírito. Sem dizer uma só palavra, andou em círculo em torno do fogo que ardia no centro da taba. Cada vez que seus pés descalços tocavam a areia do chão em torno do fogo, os que a observavam sentiam que cada gesto seu era uma prece de profunda reverência á terra. 
 


Devagar, em silêncio, ela contornou o fogo sete vezes.

Poucos conseguiam olhá-la nos olhos. Os que ousavam, viam poços da mais profunda escuridão. Suas pupilas eram tão grandes que o que nela olhavam viam um espelho de seu rosto e o reflexo da fogueira do conselho. E sentiam que se olhavam a si mesmos, vendo-se como realmente era – não exagerando suas forças, nem desconsiderando suas falhas, mas como de fato eram, nus e revelados. Os que não conseguiam olhar honestamente nos olhos Dela, simplesmente não levantavam o rosto.. 
 


Mesmo antes que abrisse a boca para falar, seu porte e exemplo tinham dado ao povo Sioux o maior ensinamento que jamais haviam recebido. Quando por fim ela falou, sua voz era como a canção das águas caindo sobre pedras, como a canção dos pássaros chamando pelos campos da pradaria. Ele lembrava, aos que a ouviam, o vento sussurrando à noite em torno de suas tabas, e soprando nos galhos pos pinheiros da montanha. 
 


“ Sete vezes“, disse ela, “andei em sete círculos em torno deste fogo, em reverência e silêncio. O fogo simboliza o amor que arde para sempre no coração do Grande Espírito.É o fogo que acontece no coração de cada búfalo, de cada bezerro de búfalo, de cada cão da pradaria, de cada galinhas silvestre, de cada águia, de cada ser humano”. Vocês, povo dos Sioux, são como um ser único. Esta taba, feita de muitas peles é o corpo de vocês. O fogo que arde no centro da taba é o amor de vocês. O fogo desse amor, às vezes, se expressa através do sexo.” 
 


Com isso, ela parou e olhos fundo nos olhos dos que a cercavam; “ existe um caminho criativo, como também existe um caminho destrutivo para que isso ocorra. A paixão que arde sem controle é como um fogo de relva selvagem que destrói tudo no seu caminho. Mas, temperada, com sabedoria, essa mesma paixão pode alimentar gerações inteiras, pode aquecer mil tendas durante cem invernos de neve e proporcionar força aos seus filhos e aos filhos dos seus filhos. 
 


“Os que são como o jovem cujos ossos agora repousam sob o luar da pradaria, que pensam primeiro na expressão sexual desse fogo, e apenas em segundo lugar no espírito que está por trás dele, se é que pensam, trancam-se em ciclos de sofrimento e ilusão – ciclos desconhecidos do nosso povo há alguns séculos, mas que agora estão debilitando a nação, enfraquecendo sua vitalidade e drenando o seu poder. 
 


“A Criação não ocorre onde há dispersão de energias. A criação requer que se concentre e focalize sua força dentro de um círculo de compromisso – como uma semente, um ovo, um ventre ou um casamento. Se vocês quiserem criar, e não destruir, devem lembrar sempre o Arco Sagrado. Considerem sabiamente as formas nas quais irão usar essa força e em torno dessas formas nas quais irão usar essa força e em torno dessas formas tracem o sagrado círculo de compromisso. Na atmosfera calorosa do círculo, a força do amor constrói sem parar, como uma tempestade sobre as úmidas pradarias do verão, até

o momento em que, de repente, o círculo não consegue mais reter a pressão e explode na concepção do novo.



“Este fogo é mais forte de que qualquer um de vocês”. Disse a Grande Mãe, apontando para as chamas que dançavam no centro da grande taba, “e os sete círculos sagrados feitos com meus passos representam os setes mundos criados por ele. Aqui, vocês vivem em todos os sete mundos, mas têm consciência de apenas um, o mundo físico, exterior. Vocês esqueceram os mundos anteriores, os mundos de visão, o mundo de onde eu venho e no qual vivem os da minha espécie. Estou vestida como vocês, povo das planícies, mas minha tribo não é Sioux.” Parou um momento e, devagar, curvou-se para tirar um graveto incandescente das chamas. 
 


“Minha tribo é o Pássaro de Fogo”, disse ela suavemente.

“Sou um membro dos Povos-Pássaro, cuja tribo outrora cobria esta ilha do Jabuti. Lembraram-se dos Seres Alados? Os Pássaros de Fogo? As Tribos-Trovão? Há quanto tempo vocês não chamam por nós nos seus conselhos?” Ela deu uma volta em torno da fogueira levantando o graveto em chamas e olhando profundamente nos olhos do povo, procurando uma reposta. Todos viraram na direção dos narradores, os guardiões das lendas e das tradições. 
 


Os narradores ficaram em silêncio.

“Seu povo esqueceu”, continuou Mulher-Novilho-do Búfalo-Branco, “o que é mais precioso do que a água. Vocês esqueceram suas ligações com o Grande Espírito. Eu vim”, disse ela, erguendo o graveto, “com um fogo do céu para reavivar a memória daquilo que foi, e fortalecê-los para os tempos que virão”.

Pousou novamente o graveto no fogo e pegou a sacola de pele que trazia. Muitos só perceberam a sacola pela primeira vez nesse momento, e ficaram maravilhados com o lindo trabalho em contas e espinhos de ouriço que enfeitavam-lhe as bordas. 
 


“ Nesta sacola“ , ela disse, “trago um cachimbo para ajudá-los na recordação dos ensinamentos que trago. Tratem-no sempre com respeito. Tragam-no, e os outros que fizeram à imagem deste, em sacolas das mais finas peles, enfeitadas pelas mãos mais reverentes”.

Ainda sem abrir a sacola de pele que continha o cachimbo, colocando-a recentemente perto do fogo e gesticulando de vez em quando na sua direção, a Grande Mãe explicou o uso do cachimbo. 
 


“Ponham neste cachimbo um tabaco sagrado plantado especialmente para este fim. Aspirem a primeira tragada com um sentimento de gratidão ao Grande Espírito, de cujo sopro vocês receberam a vida. Usem o fume para representar seus pensamentos, suas orações e aspirações. Mandem-nos para o alto, com suas exalações ao Grande Ser, Wakan Tanka, o avô de todos. Cada vez que fizerem isto, passem o cachimbo devagar e com reverência entre todos os que estiverem reunidos com vocês, enquanto cada um oferece a primeira baforada ap Grande Ser, que está acima deste mundo. 
 


“Então, com a segunda tragada do tabaco sagrado, deixem que seus pensamentos sejam de amor e de gratidão à Mãe-Terra. Dêem graças pelas relvas que lhe tecem os seios nas pradarias de formosos grãos. Dêem graças pelo dossel de firmamento azul que ela segura para vocês, que é o mundo no qual vivem. Dêem graças pelas nuvens de tempestade que trazem a chuva às pradarias, enchendo os córregos, os olhos-d’água, as nascentes e as lagoas. Com reverência, passem o cachimbo em círculo de mão em mão, enquanto cada um aspira a segunda tragada de fumo sagrado, e pensa os mesmos pensamentos. 
 


“Que a terceira tragada seja para os seres quadrúpedes e para os seres de penas; para o búfalo e para as galinhas selvagens do prado; para os peixes dos rios e para todas as criaturas desta boa terra. 

 


“E que a quarta tragada seja para o Ongwhehonwhe. Que suas orações sejam para que a sua tribo permaneça sempre entre eles, e que um dia o povo que permanece fiel à realidade inclua todas as nações do mundo.” 
 


Até esse momento, ela não tinha aberto a sacola na qual estava o cachimbo. Ela desatou então as tiras de couro que a fechavam e, erguendo um canto da pala, ,puxou da sacola de pele de corça branca um cachimbo para que todos o vissem foi de tal reverência que todos os que estavam na grande taba quedaram-se em silêncio. Neste instante, muitos sentiram os corações transbordando. Em muitos olhos, cintilavam lágrimas. 
 


“Este cachimbo sagrado”, falou a Grande Mãe, “e cada tragada de fumo sagrado que vocês inalam pelo seu tubo, ajuda-los-á na recordação de que cada sopro de vocês é sagrado. O fornilho do cachimbo é feito de pedra vermelha. Tem o formato de círculo. Simboliza o Arco-Sagrado, o sagrado círculo de dar e do receber, da inalação e da exaltação, pelo qual todas as coisas vivam ingressam na vida pelo poder do Grande Ser.” 
 


Pedindo um pouco de tabaco, Mulher-Novilha-do Búfalo-Branco deitou-o no fornilho do cachimbo dizendo: “Este tabaco, eu sei, cresceu na sua terra mais fértil e recebeu seus melhores cuidados. Ele simboliza o mundo das plantas, o musgo das pedras, as flores, as ervas, as flores da relva que cobre a colina para que sua mãe não repouse nua ao sol. Vocês meu povo Sioux, estão aqui para cuidar da terra. Seus vidas são acesas pelo mesmo fogo que arde no coração do Grande Espírito, Wakan Tanka”. Assim dizendo, ela colocou um pequeno graveto no fogo para que ardesse com chama viva. 
 


“Da mesma forma que acendo esse graveto no grande fogo que arde no centro desta grande taba, assim também cada ser humano é uma chama que fazia parte do fogo externo do amor de Deus.”

Devagar, ela tirou o graveto em chamas do fogo central e o ergueu para que todos o pudessem ver. 
 


“Sua vida individual, como a chama única que queima nesse pequeno graveto, é suficiente para acender um grande fogo. Enquanto o amor que arde dentro de vocês é voltado para coisas que iram em torno de si mesmas, continuará pequeno como esta chama. Permanecendo pequeno, não lhes trará alegria e finalmente será apagado pelos ventos rodopiantes do espírito. 
 


“Mas quando viverem em harmonia como o Grande Espírito, sua chama de amor será vivida sempre por aqueles mesmos ventos espirituais. Vocês serão tomados de amor pela própria razão da vida! Acenderão o fogo do amor em todos os que encontrarem. Conhecerão o propósito de sua travessia por este mundo e saberão por que o Grande Ser deu uma chama da vida a todos, não para guardarem sua pequena chama somente para si, amando apenas aquilo que é necessário às suas vidas, mas sim para que vocês pudessem dar o seu amor, e com o fogo desse amor trazer consciência para a terra.” 
 


Dizendo isto, ela segurou o graveto bem em cima do fornilho vermelho do cachimbo. Encostou a chama bem no centro do cachimbo, aspirando, suavemente pelo tubo até o tabaco incandescer. Os primeiros bafejos do fumo sagrado invadiram o ambiente. Foi como se os presentes estivessem vendo acender um cachimbo pela primeira vez. 
 


“Assim como o tabaco que queima neste cachimbo de terra representa o reino das plantas”, continuou – “assim também este búfalo que vocês vêem entalhado no fornilho de

pedra do cachimbo representa as criaturas quadrúpedes que compartilham com vocês este mundo sagrado, Etenoha. 


 


“As doze penas que pendem no tubo do cachimbo vieram da Wambli Galeshka, a águia pintada. Deverão lembrá-los das raças espumadas com as quais vocês compartilham o grande círculo do céu; mas também são para recordar seus “eus espirituais”, as Tribos-Pássaros, os Seres Alados do céu. Da mesma forma que passo agora este cachimbo para vocês e vocês agradecem ao Grande Espírito com seu primeiro sopro de tabaco, permitam que estas penas recordem os seres espirituais que vêm das estrelas trazendo brilho para suas vidas humanas. 
 


Permitam que estas doze penas sagradas levantem e afastem seus pensamentos do peso das paixões mesquinhas e invejosas. Deixem voar seus pensamentos como estas penas voaram uma vez em Wambli Galeshka, muito acima do mundo do pequeno “eu”. 
 


“Tomem este cachimbo. Agradeçam ao Grande Espírito, e passem o cachimbo aos outros do nosso círculo. Que seus pensamentos sejam elevados ao Grande Ser que vem agora mexer com suas memórias, abrindo os olhos de seus narradores. 
 


“Cada amanhecer que nasce vermelho no céu do leste, como o fornilho vermelho deste cachimbo, é o nascimento de um novo dia, de um dia sagrado. E da mesma forma que o sol nascente espanta a escuridão, assim também a luz que brilha na vida de todos os que amam espanta a escuridão da centralização do “eu” e dissolve as sombras que causam o infortúnio. 
 


“Lembrem-se sempre de tratar cada criatura como um ser sagrado: as pessoas que vivem além das montanhas, os seres alados do ar, os quadrúpedes, os peixes que se escondem debaixo das pedras frias no fundo dos córregos prateados e nos lagos, todos eles são irmãs e irmãos de vocês. Todos constituem partes sagrada do corpo do Grande Espírito. Tudo é sagrado. 
 


“A parte mais difícil destes ensinamentos talvez seja o de estender esse respeito aos povos das tribos vizinhas. Lembrem-se de que, como vocês, eles são pessoas sagradas, com uma tarefa específica a ser realizada no Grande Ser de Wakan Tanka. O trabalho deles não é como o de vocês, as tarefas deles não são iguais às suas, mas o propósito a que servem é o mesmo. O sol que brilha para todos não os vê como seres diferentes. Todos vocês terão de viver lado a lado com as que ostentam um matiz diferente do vermelho. 
 


“Pois em breve virá um povo que não tem a cor da pele de vocês e que são brancos como a neve que caiu nos meses do inverno. Com eles virão também os de pele negra. Os de pele amarela. E os de cor intermediárias. 
 


“Do mesmo modo que as cores se juntam em arco-íris, formando um arco sobre a pradaria quando a tempestade passa, também vocês deverão dizer às raças brancas, às negras e às amarelas, quando chegarem, que embora vocês tenha a pele vermelha, vocês, primeiro e antes de tudo, são o povo do Grande Espírito. Pela mesclagem pacífica com as tribos vizinhas, sejam uma inspiração para os povos errantes: ajudem a levar todas as raças para a harmonia do arco-íris. 
 


Foi então que passaram o cachimbo, e ela se calou até que todos o presentes tivessem terminado de aspirar o fumo pela primeira vez. Uma segunda vez o cachimbo foi passado em reverência á terra; uma terceira, para os quadrúpedes e os alados. Uma quarta vez em reverência às muitas tribos da espécie humana, as de um passado distante, as que viviam agora e as que ainda viriam a existir. Depois que todos os que estavam na grande taba tinham dado sua quarta baforada. Ela levantou com reverência o cachimbo para que todos o vissem. 

 


“Levem sempre o cachimbo com vocês. Tratem-no como um objeto sagrado. Honrem todas as criaturas e vivam suas vidas em harmonia com o Caminho Sagrado do Equilíbrio de que fala cada árvore, cada flor e cada novo dia. Haverá muitas estações nas quais o coração de vocês se sentirá claro e puro como uma nascente nas montanhas e vocês conhecerão a paz e a alegria do Grande Espírito. Mas se jamais seus passos hesitarem, agora ou em tempos mais conturbados a chegar, se sentirem que se afastaram da trilha do Caminho Sagrado, se seus corações passarem a pesar dentro de vocês, não perca tempo em arrependimentos. Ensinar-lhes-ei uma cerimônia”, disse ela enchendo o cachimbo mais uma vez e reacendendo-o no fogo sagrado, “uma cerimônia que cada um de vocês podem fazer em companhia de outros, a sós em suas tendas, ou lá fora, na pradaria. 
 


“Parem suas atividades. Procurem uma pedra sobre a qual sentar. Rogando a orientação da Grande Espírito, como lhes ensinei. Acendam o cachimbo e deixem que o fornilho vermelho lhes lembre a sagrada escritura, o caminho da vida, o trilho vermelho do sol. Depois de ter aspirado o seu fumo em honra do Grande Espírito, em honra da terra e dos animais e das pessoas que são fiéis á realidade, depois de ter dado graças ás quatro direções, então aspirem uma quinta vez para pedir orientação aos grandes seres alados do mundo dos espíritos. 
 


“Peçam ao ser alado particular do mundo dos espíritos, que é o mais próximo de vocês, para que os ajudem a ver o melhor procedimento a seguir. Peçam a esses espíritos que os ajudem a fazer a melhor e mais sábia escolha e a reconhecer os passos que devem tomar na trilha que seu saber mais profundo escolheu para vocês com o tempo, vocês passarão a conhecer o seu espírito como o seu próprio “eu”. Por agora, repousem na calma do lugar onde reside o saber mais profundo. Assim , entrarão em contato com aquilo que talvez tenham esquecido na pressa da vida. Isso permitirá que o fogo que arde dentro de vocês fale em termos claros, sem interrupções. 
 


“Com esta quinta baforada oferecida ao espírito invisível que os guia, vocês verão que o mundo dos espíritos é real, que é habitado por seres sábios e benevolentes que cuidam dos seus sofrimentos e dificuldades, sem poder oferecer ajuda ou assistência antes de serem solicitados. Com esta baforada, peçam aos seres de espírito que os cercam para entrarem nas suas vidas. Digam-lhes que desejam ajudá-los e ao Grande Espírito no seu trabalho, e perguntem-lhes como fazer isto. Ao ajudar o Grande Espírito, vocês se ajudarão muito mais do que se estivessem apenas preocupados consigo mesmos. Os seres humanos não são inteiramente felizes nem saudáveis senão quando servem aos propósitos para os quais Deus os criou. 
 


“Ofereçam a sexta baforada ás seis pessoas que vocês mais gostariam que fossem especialmente abençoadas. Um ente querido cujo espírito já deixou o corpo. Um jovem rapaz ou moça que breve ficará adulto ou adulta. O líder de uma tribo vizinha que vocês gostariam se ver aprofundando-se nos caminhos da sabedoria, talvez seus próprios antepassados, ou suas famílias. Cada vez que fizerem isto, escolham as seis pessoas que mais gostariam que recebessem o sorriso de Deus sobre elas. Para elas, ofereçam esta sexta baforada. 
 

Explicou, então, como a sexta baforada poderia ser aspirada em seis baforadas menores, uma para cada uma das pessoas envolvidas. Enquanto passavam lentamente o cachimbo, ela traçou na areia círculos que representavam as almas de cada uma das seis pessoas. E então, em torno dos seis círculos, traçou um maior para representar a benção.
Quando todos os presentes tinham completado a sexta baforada, Ela virou-se lentamente olhando para cada um. Todos os que estavam na grande taba ficaram muito quietos. Mesmo a brisa do lado de fora parou e as dobras da taba sobre as estacas ficaram imóveis. A sétima baforada, ela explicou, sempre deve ser feita em silêncio; porque era oferecida ao Grande Ser do qual todos os seres foram tirados. Para este sagrado mistério na fonte de toda a vida, era melhor, disse ela, não usar palavras. 
 
Depois de completar a sétima baforada, todos sentiram uma união tão forte na grande taba de muitas peles que naquele momento parecia haver apenas uma presença. Em perfeita quietude, o silêncio espalhou-se morno, como água, dissolvendo os últimos vestígios de desarmonia dos corações dos Sioux.. 
 
Durante muito tempo, a Grande Mãe ficou em silêncio. Quando falou novamente, comparou seus ensinamentos a uma árvore; uma árvore que iria florescer em compreensão à medida que tomavam a si essas coisas, plantando-as no coração de cada um e aplicando-as na vida de cada dia. Ela explicou aos Sioux como cada vida humana era como as folhas de uma árvore, e como não existe árvore como folhas tão tolas a ponto de brigarem entre si. 
 
“Nenhum povo fiel á realidade seria tão cego”, disse ela, “a ponto de deixar os indivíduos de uma tribo disputarem entre si. Lembrem-se, não há causa que justifique a violência contra outro ser humano, e não ser em última instância, para proteger a sua pessoa ou suas famílias. 
 
“Durante um longo tempo, vocês viverão sob a sombra sagrada desta Árvore da Compreensão que estou plantando nas consciências de vocês esta noite. E, nas gerações que virão imediatamente após a de vocês, o povo Sioux estará unido novamente no Sagrado Círculo. Sejam fiéis a este círculo, minhas mulheres do búfalo, meus bravos, meu povo das planícies. Sejam fiéis nesses caminhos e firmes nessa verdade. Pois um tempo virá, como uma tempestade escura saindo do leste, quando as pradarias serão invadidas pelos que falam depressa, percebem pouco e usam muito poder. 
 
“A sagrada Árvore da Compreensão que levarão dentro de si durante as próximas gerações será derrubada durante esta tempestade. A árvore parecerá morrer. O Arco Sagrado murchará até ser esquecido. Alguns poucos manterão a luz da verdade ardendo nos seus corações, mas a luz será fraca, e mesmo neles, passará a ser apenas uma brasa pequena e quase imperceptível. 
 

“Mas a brasinha fraca permanecerá. Em silêncio, continuará. Quase esquecida, ainda manterá uma pequena luz nos corações dos seres gentis. Mesmo quando uma nação estranha e apressada cobrir estas pradarias, mesmo quando sua Mãe Terra for comprada, vendida e roubada, como se fosse nada mais do que um punhado de contas, mesmo quando naves de pedra mágica e muito ruído voarem com pessoas dentro delas, e cruzarem os céus, essa brasa ainda manterá sua luz pequenina. E saibam, meu povo: Um grande fogo pode sair de uma única brasa!


“Pois quando a tempestade passar, essa brasa acenderá um alvorecer mais forte do que qualquer outra alvorada. Uma nova árvore crescerá, mais gloriosa do que esta que agora deixo a vocês. Com o novo alvorecer, eu voltarei. Na sombra dessa árvore, nova, viverei com vocês. E conosco estarão reunidos não somente as tribos vermelhas, mas as tribos brancas do Norte e as tribos negras do Sul, as tribos amarelas do Leste. Em harmonia, as quatro raças viverão sob os ramos da nova árvore. A época que veremos juntos será a melhor que jamais houve. Tudo o que foi quebrado será refeito por inteiro. O Arco Sagrado será consertado. A caça será farta e os espíritos de todas as criaturas alegrar-se-ão na harmonia de uma nova ordem, perfeita. O Grande Espírito, o próprio Pássaro-
Trovão, estará atuando dentro das raças, vivendo, respirando, criando através dos povos da terra. A paz virá às nações, pois os criadores da vida, os originais, os Seres Alados do céu regressarão.”

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