sábado, 27 de junho de 2015

MITOS - SONHOS - MISTÉRIOS





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- Experiência sensorial e experiência mística entre os primitivos

(trechos)
(...) Uma pessoa torna-se xamã por:

 1) vocação espontânea (chamamento ou eleição);
 2) transmissão hereditária da profissão xamânica e 
3) por decisão pessoal ou, mais raramente pela vontade do clã.

 Mas independentemente do método de seleção, um xamã só é reconhecido como tal no fim de uma dupla instrução:
 1) de ordem extática (sonhos, visões, transes, etc.)
 e 2) de ordem tradicional (técnicas xamânicas, nomes e funções dos espíritos, mitologia e genealogia do clã, linguagem secreta, etc.).
 Essa dupla instrução, que está a cargo dos espíritos e dos velhos mestres xamãs, equivale a uma iniciação.
 Esta pode ser pública e constituir em si mesma um ritual autônomo.
 Mas a ausência de um ritual deste gênero não implica, de forma alguma, a ausência de iniciação: esta pode muito bem ter-se operado em sonhos ou através da experiência extática do neófito.
É sobretudo a síndrome da vocação mística que nos interessa.

 O futuro xamã singulariza-se por um comportamento estranho; procura a solidão, torna-se sonhador, adora vaguear nos bosques ou lugares desertos, tem visões, canta durante o sono, etc.
 Por vezes, este período de incubação caracteriza-se por sintomas bastante graves: entre os Yakoutes, sucede que o jovem se torna furioso e perde facilmente o conhecimento, refugia-se nas florestas, alimentando-se de cascas de árvores, atira-se à água e ao fogo, fere-se com facas.
 Segundo Shirokogorov, os futuros xamãs tongouses atravessam, com a aproximação de sua maturidade, uma crise histérica ou histeroide, mas a vocação pode se manifestar numa idade mais tenra; o rapaz foge para as montanhas e fica lá por sete dias ou mais, alimentando-se de animais "capturados diretamente por ele com seus dentes" e regressando à aldeia, sujo, a sangrar, com as roupas em farrapos e os cabelos em desordem, "como um selvagem".
 Só após uma dezena de dias o candidato se põe a balbuciar palavras incoerentes.
(...) não é exato que os xamãs sejam ou devam ser sempre neuropatas: um grande número deles goza, pelo contrário, de uma perfeita saúde mental; por outro lado, aqueles que eram doentes tornaram-se xamãs justamente porque tinham conseguido curar-se. Inúmeras vezes, quando a vocação se revela através de uma doença ou de um ataque epiléptico, a iniciação equivale a uma cura.

 A obtenção do dom do xamanismo pressupõe justamente o desenlace da crise psíquica desencadeada pelos primeiros sintomas da vocação.
 A iniciação traduz-se, entre outras coisas, por uma nova integração psíquica.
(...) Os rituais iniciáticos específicos do xamanismo comportam uma ascensão simbólica ao Céu, pela escalada de uma árvore ou de um poste; o "doente" escolhido pelos deuses ou pelos demônios assiste em sonhos acordado, à sua viagem celeste até ao pé da Árvore do Mundo.

 A morte ritual, sem a qual não existe iniciação possível, é experimentada pelo "doente" sob a forma de descida aos Infernos: ele assiste em sonhos à sua própria ruptura em pedaços, vê os demônios cortarem-lhe a cabeça, arrancarem-lhe os olhos, etc.
(...) Grosso modo, pode dizer-se que o processo ao qual acabamos de aludir - a "doença" enquanto iniciação - conduz a uma alteração de regime sensorial, uma transformação qualitativa de experiência sensorial: de "profana", ela torna-se "eleita".

 Durante a sua iniciação, o xamã aprende a penetrar em outras dimensões do real e aí se manter: as suas provas, sejam elas quais forem, forjam-lhe uma "sensibilidade" capaz de perceber e integrar essas novas experiências.
(...) Tocado pelo raio, o Yakoute Bükes Ullejeen é reduzido e disperso em mil pedaços, o seu companheiro corre à aldeia e regressa com alguns homens para recolher os restos e preparar o enterro, mas encontra Bükes Ullejeen são e salvo.

 "O Deus do Raio desceu do Céu e cortou-me o corpo em bocadinhos, di-lhe Bükes. Agora ressuscitei como xamã e vejo o que se passa à minha volta até uma distância de trinta verstas".
(...) Ora esta modificação da sensibilidade obtida espontaneamente pela prova de um acontecimento insólito, é laboriosamente procurada durante o período de aprendizagem por aqueles que buscam a obtenção do dom xamânico.

 Entre os Esquimós Iglulik, o jovem ou a rapariga que desejam tornar-se xamãs apresentam-se diante do mestre com um presente e declaram:
 "Venho a tua casa porque quero ver". Instruído pelo mestre, o aprendiz passa longas horas na solidão: esfrega uma pedra sobre outra ou fica sentado na sua cabana de neve a meditar.
 Mas deve passar pela experiência da morte e da ressurreição místicas; cai "morto" e fica inanimado três dias e três noites, ou é devorado por um enorme urso branco, etc.
 "Sairá então o urso do lago, devorará toda a carne e fará de ti um esqueleto, e tu morrerás. Mas recuperarás a tua carne, despertarás e as tuas roupas voarão para ti". 
 O candidato acaba por obter a "luz" ou a "iluminação" (qaumaneq), e essa experiência mística, que é decisiva, dá ao mesmo tempo origem a uma nova "sensibilidade" e revela-lhe capacidades de percepção extra-sensorial.
 O qaumaneq consiste numa "luz misteriosa" que o xamã sente subitamente no corpo, no interior da cabeça, no próprio coração do cérebro, um inexplicável farol, um fogo luminoso, que o torna capaz de ver no escuro, tanto o concreto como o visualizado, porque ele consegue agora, mesmo de olhos fechados, ver através das trevas e aperceber-se de coisas e acontecimentos futuros, escondidos aos outros seres humanos.
(...) Esta experiência está relacionada com a contemplação do seu próprio esqueleto, exercício espiritual de uma grande importância no xamanismo esquimó, mas que se encontra igualmente na Ásia Central e no tantrismo indo-tibetano. (...) Eis o que relata Rasmussen:

 "Ainda que nenhum xamã possa explicar como e porquê, apesar disso, consegue pelo poder que o seu pensamento recebe do sobrenatural, despojar o seu corpo da carne e do sangue, de tal maneira que não lhe restem senão ossos.
 Deve então mencionar toda as partes do seu corpo, indicar cada osso pelo seu nome; para isso não deve utilizar a linguagem ordinária humana, mas unicamente a especial e sagrada dos xamãs, que aprendeu com o seu mestre.
Vendo-se assim, nu e completamente privado da carne e do sangue perecíveis e efêmeros, consagra-se à si próprio, sempre na linguagem sagrada dos xamãs, à sua grande tarefa, através da parte do seu corpo que está destinada a resistir mais tempo à ação do sol, do vento e das intempéries"
(...) Tal exercício espiritual implica a "saída do tempo', porque o xamã não só antecipa por uma visão interior a sua morte física, como recupera aquilo a que poderíamos chamar a fonte intemporal da Vida.
(...) Por vezes o simbolismo da agonia, da morte e da ressurreição místicas é representado de uma maneira brutal e orientado diretamente para a alteração da sensibilidade: certas operações dos aprendizes xamãs denunciam a intenção de "mudar de pele"ou modificar radicalmente a sensibilidade por torturas e intoxicações sem conta.

 Assim os neófitos Yamana da Terra do Fogo esfregam a cara até criarem uma segunda e mesmo uam terceira camada de pele, "a pele nova", visível apenas aos iniciados.
(...) Entre os Caribes da Guiana Holandesa, os xamãs aprendizes sofrem uma intoxicação progressiva com sumo de tabaco e cigarros que fumam sem parar; mestras esfregam-lhes todas as noites os corpos com um líquido vermelho; escutam lições dos mestre com os olhos bem esfregados com suco de pimenteiro; finalmente, dançam, um de cada vez, sobre cordas estendidas a diferentes alturas ou balançam-se no ar pendurados pelas mãos.

 Atingem finalmente o êxtase sobre uma plataforma "suspensa do teto da cabana por várias cordas torcidas em conjunto que, ao desenrolarem-se, fazem girar a plataforma cada vez mais depressa".
(...) Uma das provas iniciáticas própria do xamanismo implica a capacidade de resistir tanto ao frio extremo quanto à temperatura da brasa.

 Assim, por exemplo, entre os Manchus, o futuro do xamã deve passar pela seguinte prova: cavam-se, no Inverno, nove buracos no gelo; o candidato deve mergulhar por um destes buracos evoltar a sair, nadando sob o gelo, pelo segundo, e assim sucessivamente, até ao nono buraco.
 Ora, certas provas iniciáticas indo-tibetanas consistem justamente em verificar o grau de preparação de um discípulo pela sua capacidade de secar por meio do seu corpo nu em pleno nevão, durante uam noite de inverno, um grande número de tecidos encharcados. 
Este "calor psíquico" tem, em tibetano, o nome de gtúmno (pronuncia-se: tumô ). Mergulham-se panos em água gelada; eles congelam e saem de lá tesos. Cada um dos discípulos enrola em torno de si um deles e deve descongelá-lo e secá-lo sobre o corpo.
 Logo que a roupa esteja seca, volta-se a mergulhá-la na água e o candidato envolve-se de novo com ela. a operação reproduz-se assim até ao nascer do dia. Então aquele que secou o maior número de panos é proclamado vencedor da competição.
(...) O "calor mágico" está relacionado com uma outra técnica que se poderia chamar "domínio do fogo" e que torna o praticante insensível à temperatura da brasa,

 Quase por todo o lado no mundo xamânico se registram tais explorações, que fazem lembrar os pródigos do faquirismo: preparando o seu transe, o xamã brinca com carvões em brasa, engole-os, toca em ferro ao rubro, etc.
(...) O "domínio do fogo" e a insensibilidade, tanto ao frio extremo quanto à temperatura da brasa, traduzem materialmente o fato de o xamã ter ultrapassado a condição humana e participado já da condição dos "espíritos". Ao nível das religiões arcaicas, participar na condição dos "espíritos" é o prestígio por excelência dos místicos e dos mágicos.

 Da mesma forma que os "espíritos", os xamãs são "incombustíveis", "voam" pelos ares, tornam-se invisíveis. Torna-se-nos aqui necessário chamar a atenção para um fato que é importante: é que a experiência suprema do xamã resulta no êxtase, no "transe".
 É durante o seu êxtase que ele empreende, em espírito, longas e perigosas viagens místicas até aos mais altos céus, para se encontrar com Deus, ou até à Lua, ou descendo aos Infernos, etc.
(...) Tudo isto é muito natural: tendo já conhecido, através da sua iniciação, a morte e a ressurreição, o xamã pode assumir impunemente a condição de desencarnado; pode existir como "alma" sem que a separação de seu corpo lhe seja fatal.

 Cada "transe" é uma nova "morte", durante a qual a alma abandona o corpo e viaja em todas as regiões cósmicas.





Retorno dos Xamãs


Meu grande irmãos espiritual, o jornalista Romeo Graciano escreveu um texto muito bonito em 1993, para o Guia do Buscador, sobre o Retorno dos Xamãs, que compartilho abaixo :
img O xamanismo figura na origem das práticas de tratamento da alma, da mente e do corpo, tendo deixado influências em todos os continentes.
 A notável criatividade de suas técnicas vem ressurgindo no enfoque holístico de muitas terapias, além de promover a aliança do homem moderno com as forças naturais.
O xamã é um especialista do mundo invisível com um talento muito particular, que lhe permite entrar e sair dele com liberdade e conhecimento para curar, fazer adivinhações, ver o passado, o presente ou futuro, conciliar o homem com o sobrenatural e as forças mágicas.
Ele é o manipulador do "Sagrado" e mestre do êxtase, do transe extático, um dos aliado dos espíritos da natureza, dos ancestrais, que trava contato com as potências celestes como com as infernais, de acordo com a necessidade do grupo a que serve.
Classificá-lo apenas como feiticeiro, pajé, curandeiro ou mago é limitar a ação desse agente da força mana universal e impessoal, responsável pelo sistema mais antigo de tratamento da mente e do corpo.

Acredita-se que o xamanismo tenha pelo menos 30.000 anos de história, tendo surgido no período Paleolítico.
 Seu desenvolvimento transcorreu de modo paralelo à consciência religiosa, fortalecendo-se por meio dela.
Todos os continentes receberam influências da tradição xamânica, especialmente as regiões do norte e do centro-asiático, as regiões árticas e as norte-europeias. Países como a Índia, Tibete, China, Japão, Austrália, África, toda a América do Norte, a Central e a Sul tem vestígios de suas práticas.
No Brasil, onde existem várias nações indígenas, a imagem do xamã equivale-se à do pajé, à do curandeiro e à do conselheiro espiritual da tribo.
Na língua dos povos Tungus, da Sibéria, vamos encontrar o termo sama e, em sânscrito pramana, que muito provavelmente registram a origem da expressão xamã, traduzida como "homem inspirado pelos espíritos".
 Não que o xamanismo fosse um fenômeno exclusivamente masculino, pois tudo indica que através do tempo a participação das mulheres diminuiu muito, pela impossibilidade de conciliar as exigências da vida familiar com as funções designadas a esse mestre do mundo invisível. img
Os xamãs foram os primeiros professores, profetas, contadores de histórias, artistas místicos e investigadores da natureza.
 Tinham desenvolvidas no mais alto grau as suas capacidades mentais e aplicavam o conhecimento intuitivo animal, que reside em nosso sistema límbico - área primitiva co cérebro conectada com a memória animal, que diz respeito à mente lógica. Daí o xamã trabalhar com seus animais de poder, que são seres espirituais que lhe protegem e servem, manifestações da sua outra identidade, e que podem ser descobertos por todas as pessoas em seu mundo interno.

Na jornada às outras dimensões os xamãs tem os seus animais como seus cúmplices e as plantas de poder como seus agentes secretos; a percepção aguda dos seus animais auxiliares permite-lhe rastrear a enfermidade do paciente, e o vínculo com os seres vegetais lhe empresta o poder da cura. Para eles só existem os limites da imaginação.
A natureza é a sua grande aliada, e nela todos os seres são vivos e podem agir com finalidade certa. Afinal, almas e espíritos animam todas as coisas do universo por obra do sagrado.
O neófito é o possuidor de uma vocação xamânica, normalmente aflorada em meio a alguma espécie de crise, de prova, que simboliza o seu chamado.
 A tradição é repleta de histórias que narram o processo de iniciação ritual na arte do xamanismo, sendo muito conhecida a de Carlos Castañeda com seu mestre Dom Juan. O indivíduo com o destino de ser um xamã deve voltar sua sensibilidade para o misticismo, e para isso a realidade se encarrega de defrontá-lo com o sentido profundo da vida. Muitas vezes isso acontece com o surgimento de uma doença, que o futuro xamã conseguirá superar, vivendo o arquétipo junguiano do "curador ferido" - sua morte simbólica para o renascimento em outra consciência.
A entrada no transe que conduz à viagem xamânica exige uma alteração do estado de consciência.
 Nesse processo, o som, a dança, o canto e os objetos de poder vão criar os estímulos para isso. Com a consciência alterada, o xamã recebe impressões inacessíveis aos sentidos comuns, penetra na dimensão astral, em outros mundos. Esses mundos não são artificiais, mas tão reais quanto o mundo comum; artificiais podem ser os meios para se chegar até eles. A ciência tem estudado a natureza do transe xamânico, constatando a superioridade de certos estados de consciência alterada sobre o estado de consciência comum em que vivemos a maior parte do tempo.
A abordagem holística que caracteriza a cultura aquariana emergente tem conciliado com grande felicidade o terapêutico e o espiritual, o tradicional e o contemporâneo.
 Muitas técnicas multimilenares do xamanismo estão retornando ao presente, expressando-se na psicologia e em diversas modalidades de terapias alternativas, com a criatividade típica desse conhecimento arcaico. E a criatividade é uma condição essencial para o resgate do nosso ser original, para enfrentarmos - como bons xamãs modernos - a morte ritual do pequeno ego que nos fará renascer inteiros.

Estranhos Poderes


OS ESTRANHOS PODERES DOS XAMÃS
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Atualmente, a suposição de que há poderes misteriosos tende a ser vista com uma boa dose de ceticismo.
 Muitas culturas, porém, aceitam o contato com as forças sobrenaturais sem questioná-las.
Desde a aurora dos tempos, as sociedades tribais veneram indivíduos que supostamente possuem a capacidade de comunicar-se com espíritos e divindades.
Chamados profetas, curandeiros ou médicos - mas, de um modo mais amplo são conhecidos como xamãs.
Eles são requisitados para curar enfermidades físicas ou emocionais, obter alimento quando há fome, ajudar a encontrar objetos perdidos ou roubados, prever o futuro, controlar o tempo, trazer de volta almas fugitivas dos enfermos e guiar a dos mortos.
Em geral os xamãs entram em transe para tenta fazer contato com o mundo espiritual.

Para atingir esse estado alterado de consciência empregam meios semelhantes aos adotados em certos experimentos da moderna parapsicologia. às vezes meditam no isolamento ou se concentram nos sons rítmicos de tambores, cantos ou danças, outras jejuam ou usam plantas psicoativas.
Uma vez que a mente e o copro rendem-se ao transe, o xamã fica à vontade para visitar o mundo espiritual.
Muitas vezes, dizem, através do voo mágico.
 Lá o xamã recebe uma mensagem que pode vir sob a forma de uma canção, de uma oração ou de um ritual a ser executado; a mensagem também, pode vir como uma visão esclarecedora sobre a natureza da vida.
Em raras ocasiões, os xamãs tentaram descrever, através de palavras e imagens, algumas das mensagens frequentemente inefáveis que receberam durante suas odisseias mentais no mundo dos espíritos.
´Vejamos exemplos de três culturas tribais : os esquimós iglu, os índios sioux oglala e os índios huichol, do México nas próximas mensagens
OS ESPÍRITOS DE ANARQAQ 
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Quando o explorador dinamarquês Knud Rasmussem chegou à região ártica da América do Norte em 1921 para estudar os esquimós iglu, encontrou uma cultura que girava quase que exclusivamente em torno de uma multidão de seres invisíveis.
Além dos espíritos que habitavam cada pessoa, animal e objeto havia aqueles não especificados, responsáveis por acontecimentos aparentemente inexplicáveis, como a doença e o tempo ruim.
 Anarqoa, um xamã, auxiliou-o evocando seres. Rasmussem ficou sabendo que havia espíritos bondosos e prestativos, outros agressivos e maldosos, e outros decididamente maus. A comunidade inteira procurva manter os maus espíritos ao largo através de rituais e tabus, mas só os xamãs tinham o poder de banilos por completo.
Enquanto xamã,
 Anarqoa era ajudado por espíritos benfazejos, que entravam em seu corpo, ou simplesmente chamavam-no Ao responder, o xamã absorvia os poderes deles. Muitos espíritos bons faziam sua primeira aparição sob a forma de monstros ou animais ferozes que deviam ser conquistados ou subjugados, mas ao conquistar sua boa vontade, mostravam uma lealdade sem limite.

Para Anarqoa, o espírito Igtuk era responsável pelos estrondo que às vezes se ouviam vindos das montanhas árticas. 
Na descrição do xamã, Igtuk tinha apenas um grande olho, situado entre os braços. Sua boca imensa abria-se para um abismo negro e seu queixo era coberto por pelos espessos.

img Anarqoa contou que pouco depois de seus pais morrerem, um espírito melancólico chamado Issiotôq, ou Olho Gigante, apareceu.
 " Não tenha medo de mim", disse o espírito, "pois eu também me debato com pensamentos tristes.
 Assim, ficarei a seu lado para ser seu espírito benfazejo. " Issitôq tinha um `pêlo curto e eriçado, braços extremamente compridos e uma boca vertical com um dente longo e dois curtos; ele ajudava Anarqoaa encontrar aqueles que infringiam os tabus da tribo.

Anarqoa teve uma visão num dia de primavera.
 Um espírito feminino chamado Qungiaruvlik tentava roubar uma criança escondendo-a em sua parca.
 Não houve tempo, porém, para ela conseguir o que queria: dois espíritos benfazejos bem armados salvaram a criança e mataram a sequestradora.
Kigutilik, um dos muitos espíritos que Anarqoa afirmava ter encontrado em suas caçadas, era um ser monstruoso, do tamanho de um urso.
 Com um rugido, Kigutilik surgira de um buraco no gelo, assustando Anarqoa, que caçava focas.
 De medo, o xamã fugiu sem se entender com o espírito.
Certo dia caçando caribus, Anarqoa deu de cara com esse espírito rotundo, chamado Nârtôq. Ao ver Anarqâq o espírito investiu como se quisesse atacá-lo, mas quando o xamã se preparou para a defesa, ele sumiu.
 Mais tarde, Nârtôk voltou e disse a Anarqoa que se ele aprendesse a controlar seu temperamento esquentado, Nârtôq passaria a ser seu espírito benfazejo.

Cosmologia Xamânica


No xamanismo sempre saúdo o Mundo Subterrâneo, o Mundo Intermediário, o Mundo Superior. Os xamãs são os viajantes capazes de atravessar essas Zonas Cósmicas, de uma para a outra.


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