sábado, 27 de junho de 2015

O XAMÃ


O Xamã

Léo Artése

O xamã, não se autoproclama. 
Ele é chamado para suas tarefas espirituais, passa por treinamentos e então é reconhecido pelas pessoas de sua comunidade.

Nos primórdios da humanidade, os seres humanos, sentiam-se frágeis perante as forças da natureza e temiam aqueles que não pertenciam aos seus clãs, animais, etc.

 Para suprir essas carências, surge o xamã como um "organizador do caos" para despertar a consciência.
 Assim eles recorriam àquele que era concebido como um guerreiro que atuava com armas espirituais, que faziam a ponte entre o mundo dos homens e espíritos.

A palavra xamã tem sua raiz na Sibéria, vinda da palavra "saman", aparentado com o termo sânscrito "sramana" que significa: inspirado pelos espíritos.

O xamã pode ser homem ou mulher.

O termo xamã foi adotado, pela antropologia, para se referir a pessoas de uma grande variedade de culturas não ocidentais, que antes eram conhecidas como : bruxo, feiticeiro, curandeiro, mago, mágico, vidente, sacerdote, pajé, homem da medicina, o terapeuta, o conselheiro, o contador de estórias, o líder espiritual e outros.
Defini-se o xamanismo como um conjunto de crenças ancestrais que estabelecem contato com uma realidade oculta, ou estados especiais (alterados) de consciência, a fim de obter conhecimento, poder, equilíbrio saúde para si mesmo e para as pessoas
O xamã, não se autoproclama.

 Ele é chamado para suas tarefas espirituais, passa por treinamentos e então é reconhecido pelas pessoas de sua comunidade.
 A iniciação tem um fundamento nas bênçãos recebidas pelos instrutores que passam uma espécie de "autorização espiritual" para conduzir cerimônias.
 Isso é honrar o conhecimento e não usurpar, e nem banalizar o processo de iniciação espiritual. Trata-se de um sacerdócio.
 É uma missão de utilidade pública.
Parte-se de um princípio que neste mundo nada é dado de presente, tem que ser aprendido.

 Tudo é troca.
 Aquele que tem por destino ser xamã experimenta um certo mal estar, um certo tédio pela vida, tédio de viver num mundo demasiadamente seguro, sensibilidade voltada para o misticismo e para as forças do inconsciente.
Sua vocação é demonstrada por perturbações no comportamento ( loucura controlada), vem também por transmissão hereditária, por decisão pessoal onde passa por provas (jejuns, recolhimentos, sacrifícios corporais...) ou é eleito pelo clã. Iniciado pelos espíritos tem uma vivencia de morte simbólica para posterior ressurreição.

 Permanece dias em locais isolados sem falar, comer, e, quase sem respirar. Geralmente conta em suas provas, ao regressar de sua viagens que seus ossos foram arrancados, sua carne raspada, tem a cabeça decepada, isto é o coma iniciático.
 Ele deve morrer em seu corpo terrestre para renascer em corpo astral. Esqueletos de pessoas, pássaros ou animais, são alguns dos ornamentos dos siberianos. 
Simboliza o tempo do nascimento do xamã - meio homem - meio animal.
Muitas iniciações também envolvem atravessar brasas ( Manchus), nadar sobre o gelo, beber sangue (golfos).

 Entre os Iacutes, no alto de uma montanha, com o mestre no território das doenças, ensina-se a reconhecer a doença e curá-las.
 Para cada parte do corpo ele cospe na boca do outro, que deve engolir o seu cuspe para diagnosticar a doença.
 Os Buriatas faziam a purificação pela água (batismo) com plantas aromáticas e algumas gotas de sangue de bode, para invocar os ancestrais. img 
Segundo Mircea Eliade uma pessoa torna-se xamã por: 
1) vocação espontânea (chamamento ou eleição) 

2) transmissão hereditária da profissão xamânica 

3) por decisão pessoal ou, mais raramente pela vontade do clã. 

Mas independentemente do método de seleção, um xamã só é reconhecido como tal no fim de uma dupla instrução: 

1) de ordem extática (sonhos, visões, transes, etc.) e
2) de ordem tradicional (técnicas xamânicas, nomes e funções dos espíritos, mitologia e genealogia do clã, linguagem secreta, etc.).
 É sobretudo a síndrome da vocação mística que nos interessa.
O futuro xamã singulariza-se por um comportamento estranho; procura a solidão, torna-se sonhador, adora vaguear nos bosques ou lugares desertos, tem visões, canta durante o sono, etc


Faziam também parte das iniciações o calor (tenda do suor) e com plantas de poder, que proporcionavam o arrebatamento místico, viagens astrais etc. 
Parte-se de um princípio que neste mundo nada é dado de presente, tem que ser aprendido.
Aquele que tem por destino ser xamã experimenta um certo mal estar, um certo tédio pela vida, tédio de viver num mundo demasiadamente seguro, sensibilidade voltada para o misticismo e para as forças do inconsciente.
Trata-se de um sacerdócio.
 Muitas pessoas querem ser xamãs sem conhecerem as obrigações inerentes a essa função, a entrega.
 É uma missão de utilidade pública.
 Várias pessoas se denominam, mas o que determina é o trabalho espiritual. Tem gente que se denomina ator político, técnico de futebol, terapeuta, professor. Tem gente que se denomina espiritualista. 
Tem gente que se denomina Pai-de-Santo. Enfim, no xamanismo também!

Atualmente existem muitas pessoas que se autodenominam xamãs, que no final das contas aprenderam alguns conceitos, mas nunca foram numa floresta, nunca foram a estados profundos de consciência, não estão inseridos numa comunidade espiritual, mas estão dando aulas.
É uma iniciação séria e não uma prática que se aprende em um final de semana. Um xamã transformou a sua vida, conseguiu a sua cura através de profundos processos de morte e renascimento, lidou com perdas, enfrentou entidades, enfrentou sua própria sombra, e obteve o conhecimento essencial e o reconhecimento de seus instrutores para poder compartilhar com os outros. Lembro também que xamanismo não é só praticas de rituais e cerimônias, e sim uma forma de vida, uma nova visão do mundo, que se aplica, primeiramente no condutor.

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São anos de preparação.
 Está além dos rituais é um jeito de viver .
Ser um xamã é abraçar um sacerdócio, não é um trabalho somente terapêutico, é uma caridade de alto risco, é assumir uma responsabilidade com o Universo de viver em harmonia com a natureza, de ajudar o próximo, de transformar o ambiente em que vive, de ser aparelho de transformações nas pessoas que dele se aproximam. 



Uma mudança radical, profunda, verdadeira. 
Ser xamã não é uma profissão, é um dom.
Ninguém, entretanto, precisa ser um xamã para praticar xamanismo. Você pode ir à missa, sem se tornar um padre.
 Ser xamã Implica em iniciações e transformações de profundo significado que visam preparar o aprendiz para ajudar o próximo, e passar a sua vida nisso. Não são todos os que estão preparados para abrirem suas vidas para se dedicarem verdadeiramente ao outro.
 Não se aprende a ser xamã em salões de espaços esotéricos.
 Neles você encontrará as práticas xamânicas, que lhe colocarão em contato com a egrégora, isto, se o condutor for realmente um iniciado e não um oportunista que nunca se entregou a processos de morte e transformação e só fez o caminho das flores sem tocar nos espinhos.
 No xamanismo também aprendemos a lidar com o Mundo da ilusão.
Perante a sociedade atual em que vivemos é a mesma coisa.
 Não basta ter conhecimentos médicos, se a sociedade não dá um diploma não é possível exercer a medicina de forma legal.
 Não basta ter conhecimento sobre as emoções, se não receber um diploma, ou melhor, se não há uma formatura, é possível ser conselheiro, mas não psicólogo ou psiquiatra.
Tudo que é sério requer um ritual de passagem, uma iniciação.

Os xamãs carregam o conhecimento espiritual e da vida, passados oralmente, lembrando a sabedoria dos antepassados.
 Eles conduzem os ritos de passagem, encorajam a comunidade para enfrentar os desafios, aglutinam a consciência comunitária, criando uma identidade grupal.
 O xamã é um especialista do Sagrado.
 Ele é capaz de mover-se entre os diversos estados de consciência. 
 O xamã é uma pessoa que trabalha em Estado Alterado de Consciência ( estado extático, transe, estado transcendente - onde a pessoa percebe uma "realidade incomum".) e deve conhecer os métodos básicos para realizar esse trabalho.
 Os xamãs são grandes conhecedores da floresta e das propriedades das plantas .
O xamã é o especialista do invisível.

O que é um xamã?


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Em cada clima e cultura surgem almas que vivem a hora mágica da realidade. 
No texto, Craig Chalquist , fala que Os xamãs são iniciados numa maneira consagrada de ser, sua ocupação está no não ordinário, no interior, na iluminação pelos sonhos, no intangível.
 Não sendo nem sacerdotes, nem curandeiros, algumas vezes funcionam como tal, são chamados de feiticeiros, magos, psíquicos, yogis, médiuns, místicos, videntes, bruxos. 
Têm sido tocadores de tambor e dançarinos, artistas e atletas, treinadores e embusteiros, sábios e guerreiros.
 Mas, qualquer que seja seu papel, caminham pela Senda da mediação entre a paisagem cotidiana e o reino dos arquétipos.
 Com um pé em cada cavalo, aventuram-se, entrando e saindo de estados alterados de consciência.
"Xamã" é a versão de "Saman" (shah-man), substantivo e verbo dos Tungus da Sibéria.
 Onde quer que se encontre, o Xamã, feminino ou masculino, é o especialista da comunidade nas relações do além, do outro mundo, o mundo superior e o mundo interior, um esgrimista do mundo sobrenatural, um expert do êxtase. Seja curando, guerreando, predizendo, mudando o clima, cozinhando ervas, fazendo máscaras, acompanhando as almas mortas ou localizando as perdidas, executa um papel de mestre das operações do inconsciente. 

A consciência xamânica não é simples hipnose, fantasia, possessão, contorção, depressão, terror ou intoxicação, ainda que possa se apropriar dessas coisas. Tocando o tambor ou ingerindo uma planta de poder, sonhando lucidamente ou caindo em transe, o xamã permanece focado e consciente, sabendo bem que as viagens internas não significam nada a menos de que seus frutos são trazidos de volta e transformados em realidade mediante os rituais, danças, palavras, arte, música ou sessão de cura (especialidade mais frequente do xamã), vertendo o poder acumulado do outro lado em atividades úteis aqui. 

Alguma das artes criadas pelos xamãs para tais realizações incluem : tocar tambores, música, acrobacia, teatro, arquitetura, escultura, entalhes, pintura, pintura em areia, pintura corporal, tatuagens, mudrás, talismãs, malabarismos, ilusionismos, ventriloquia, cultivo de plantas, astronomia, metalurgia, pirofagia, treinamento de animais, escrituras e as artes da navegação. 

Tais proezas requerem um treinamento rigoroso e muitos anos de paciente prática. Por outro lado, a instrução xamânica tradicional é supervisionada externamente por outros xamãs e internamente por seres ou guardiães espirituais que oferecem sua amizade e outorgam poder ao aprendiz. Os seres espirituais são particularmente importantes : nenhum xamã se converte em xamã sem receber uma senha de aprovação transpessoal deles.
Algumas práticas da Nova Era dão a entender que converter-se em xamã implica simplesmente em acender incenso e fazer algumas visualizações dirigidas ( razão pela qual a maioria do que hoje em dia se anuncia como xamanismo, é mera conversa!!). 

O sentido do chamado de um autêntico xamã não é um capricho e sim legado de uma vocação perigosa.
 É transformador, muda o curso da vida, esmaga temporariamente o ego, com meios, as vezes tão dolorosos, que chegam ao pânico. 
Como descreve Alce Negro :
"Quando chega uma visão dos seres do trono do Oeste, chega com terror como uma tormenta de relâmpagos.
 Mas quando passa a tormenta da visão, o mundo é mais verde e mais feliz, pois onde a verdade da visão cai sobre o mundo, é como uma chuva.
 Verá que o mundo é mais feliz depois do terror da tormenta. "
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Uma das formas de chamado chega como uma crise mental ou física, considerada incurável pelos métodos normais.
 Para assumir sua vocação o iniciado deve curar-se a sí próprio.
 Durante esse processo, a cura simboliza uma espécie de morte, particularmente a morte de uma parte de sí mesmo com a qual o iniciado tem a tendência de identificar-se; talvez hajam sonhos de enterros, desmembramentos, substituição dos olhos ou ouvidos, transformações de órgãos ou ossos.
O velho se expira e o novo assume a responsabilidade de aprender a geografia do não-ordinário que começa a abrir-se rapidamente frente a ele.
 Aprendizado que incluí nomear objetos, poderes, lugares e seres de outros mundos e transferir seus poderes para a vida cotidiana. 

Desde que tais poderes abundam no mundo percebido pela consciência xamanística, o xamã vê a natureza como um sistema espiritual-energético e observa cuidadosamente seus equilíbrios e interdependências.
 A princípio, os antropólogos atribuíam a perspectiva xamanística a um animismo primitivo. Hoje, na sinceridade do xamã , há os espíritos ou essências das coisas animadas e inanimadas.
 Podemos ver que há um respeito pela vida, que o nosso mundo, tão devastado ecologicamente, não pode prescindir.
Ainda que os xamãs são encontrados em todos os lados, o grau de sua aceitação varia.
 A inquisição, por exemplo, os exterminava.
 Entretanto, muitas sociedades nativas tem honrado o xamã e valorizado seus conhecimentos.
Os ocidentais modernos que entendem literalmente o que escutam sobre os animais de poder e sobre as viagens da alma, ostentam uma idealização infantil das habilidades do xamã, menosprezam, considerando-os como remanescentes de outras épocas. 
Nenhuma dessas perspectivas compreende a vitalidade simbólica das práticas xamânicas, nem a profundidade insondável dos domínios do xamã : a psique arquetípica, tão extensamente inexplorada.
 Na linguagem de Jung: tal qual a alquimia, o xamanismo expressa uma forma projetada particularmente pura da psicologia do inconsciente coletivo.
Mesmo sendo a relação mais antiga da humanidade com o espirito, o xamanismo é um conjunto de habilidade e práticas acumuladas pacientemente e não uma religião. 
Não há clero, igreja, credo, missão ou coleção de crenças eclesiásticamente corretas. O tecnicismo de seu estabelecimento empírico faz o espiritual se distinguir das facções tantos legalistas como liberal de uma religião, liberando-o para poder brindar com apoio e trabalhar ao lado dela.
Um místico, não é necessariamente um xamã, ainda que muitos xamãs entendem de misticismo.
 A diferença entre os contemplativos que chamam de "consciência divina", o êxtase do xamã (de ekstasis - ser colocado para fora, destacar-se) não busca o autoconhecimento ou a união com deus, sem trabalhar as forças para obras concretas aqui e agora, como a cura, a terapia, a arte e a restauração da harmonia comunitária.
 O xamã não é um santo e sim um condutor, um aparelho, um canal familiarizado com as polaridades internas, tanto luminosas como obscuras, que geram poder.
Os temas que se repetem nas vidas de xamãs autênticos são:

  • Uma pecepção de que é diferente; incapacidade de se encaixar completamente; uma postura intuitiva ou espiritual da vida , sente-a mais intrínseca do que aprendida.

  • Ser eleito por um chamado xamânico ao invés de eleição. 
  • O chamado manifesta-se como um sucesso que altera a vida, de intenso significado pessoal e espiritual; sentimentos de culpa, êxtase ou falta de mérito; temer a loucura; afirmações sincrônicas do chamado; enfermidades caso o chamado não seja atendido.

  • Largo período de enfermidade física ou psicológica incurável pelos métodos tradicionais: se o xamã potencial pode curar-se a sí próprio, penetrando suficientemente dentro de sí mesmo, passa a verdadeira iniciação, mesmo que depois atravesse por outras menores.

  • Possuir um histórico familiar de iniciações xamânicas (por exemplo: um avô que foi um xamã), ou referências internas de seus ancestrais ( por exemplo uma figura nos sonhos que declara : Antes foi seu avô, agora é a sua vez)

  • Treinamento de técnicas de alteração de consciência, sob a condução de guias tanto internos como externos.

  • Manifestações espontâneas de cura dentro da comunidade, sem ou não a proximidade física do xamã; um nítido aumento de incidentes positivos que desaparecem quando o xamã abandona a área.

  • Fácil reconhecimento de sucessos sincrônicos ( considerados sinais ou augúrios).

  • Tatuagens, perfurações, escarificações ou outras marcas, podem significar uma importante lição de vida, cura ou iniciação.






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