sábado, 27 de junho de 2015

PORTAS DA PERCEPÇÃO

img Nossa consciência habitualmente registra somente uma parcela da realidade, aquela que aprendemos a ver e a definir através da educação e da linguagem. 
Mas há outros estados de consciência que abrem as portas de nossas percepções para mundos desconhecidos, maravilhosos ou fantasmagóricos. * Thamara Hormaechea *


A consciência é o estado mais comum de nossa mente. estamos conscientes quando estamos acordados e é através da consciência que percebemos a realidade que nos rodeia.
 Quando estamos profundamente adormecidos, não nos damos conta se faz frio ou calor, se há ruídos por perto de nós ou se alguém nos toca suavemente. Nesses momentos é o inconsciente que tem o controle da situação.
Ainda que nossa percepções sofram ligeiras modificações, na maior parte das vezes determinadas pelas emoções que sentimos.
Um minuto pode passar voando ou parecer eterno, os ruídos podem nos parecer fortíssimos se estamos em alerta ou inexistentes, se estamos distraídos, etc.
Nosso estado de consciência pode sofrer modificações muito mais profundas, que determinam uma percepção totalmente diferente da realidade.
 Este comportamento, este "entrar num mundo diferente", tem uma denominação não muito clara, porém bastante útil para defini-lo como estado alterado de consciência.
Ainda que possamos cair espontaneamente num desses estados e o sonho é um exemplo disso - há situações que propiciam a aparição dos mesmos, como assinala Arnold M. Ludwig, que colaborou no livro Altered state of Consciousness.
Quando os estímulos que nos chegam do exterior são excessivos, é como nossa mente não tivesse tempo para processá-los corretamente.
 Muitas pessoas que estiveram em bombardeios, que passaram por interrogatórios violentos ou que sofreram os horrores de uma batalha começam a vagar sem rumo, sem saber onde estão e, logicamente, sem formular pensamentos  coerentes.
 Mas, sem chegar a esses casos extremos, pensemos nas vezes em que uma notícia má ou boa nos deixa, ainda que por poucos segundos, completamente estarrecidos. 
 É como se acontecesse uma espécie de curto circuito mental. Se alguém falasse conosco nesse momento, não conseguiríamos compreender nem prestar atenção em uma só palavra.
Assim como um excesso de estímulos pode nos levar a um estado alterado de consciência, também a falta deles pode dar igual resultado.
 Isto ´o que acontece com navegadores solitários ou com exploradores perdidos num deserto, vendo somente areia, ou seja, uma paisagem uniforme e monótona.
 A ausência de sons ou elementos que chamem nossa atenção visual provoca estados alucinatórios. img
Hoje em dia existem câmaras de privação sensorial ou "bolhas de flutuação" onde o sujeito se submerge em água temperada (à temperatura corporal" e não entra som nem luz. 
Nesses lugares as pessoas experimentam estranhas e agradáveis sensações.
Quando a mente se submete a uma tensão excessiva, a uma constante e prolongada atenção - como é o caso de quem está diante de uma tela de radar ou dos sentinelas com grandes períodos de vigilância - pode começar a funcionar de maneira diferente.
 Ao contrário, qualquer um que tenha passado vários dias muito concentrado sobre um tema apara fazer, um exame, ao terminar esse exame (ou seja quando coloca um ponto final numa tensão de muitas horas) não somente se sente liberado como também um pouco tonto ou esquisito, diferente do normal. Sem que isto constitua uma alteração profunda da consciência, poderíamos dizer que a percepção de realidade é ligeiramente diferente da normal.
 Isto é apenas uma pequena amostra do que poderia acontecer se houvesse um estado mental realmente alterado.
O relaxamento e a supressão das faculdades críticas (o zerar a mente) podem nos levar a idênticos resultados. 
Quem conhece muito bem estas técnicas são os místicos das diferentes religiões, já que as utilizam em seus estados de contemplação, tais como o satori e nirvana.
Além dos fatores psíquicos, há também causas físicas que podem provocar alguma alteração de consciência.
 Segundo alguns estudiosos, os castigos físicos involuntários dos místicos tem como finalidade estimular as secreções de certas glândulas, favorecendo assim a aparição destes estados mentais.


img O médico psiquiatra Paulo Urban, 

escreveu uma matéria sobre Stanislav Grof, o psiquiatra tcheco que desenvolveu a prática da respiração hilotrópicas, que leva o homem a vivenciar estados alterados de consciência. Grof, pesquisador de estados incomuns da consciência, cunhou o termo respiração hilotrópica, "holos" em grego significa totalidade;" tropein" traduz-se por dirigir-se a, orienta-se para.
 Respiração Hilotrópica é aquela cuja prática amplia a consciência, levando-a a uma experiência de transcendência e inteireza.

Tudo começou em 1956, quando a Faculdade de Medicina de Praga, da qual Grof era médico residente, recebeu do laboratório Sandoz uma substância recentemente sintetizada em Basel (Suiça) pelo químico Albert Hofmann, que propunha aplicar o fármaco no tratamento de psicoses. Grof foi um dos voluntários para experimentar a nova droga, cujas propriedades psicoativas revelaram-se notáveis. Era o LSD-25, ou ácido lisérgico.
O jovem médico refere-se à sua primeira sessão psicodélica como algo indescritível, cuja culminância o levou à consciência cósmica.

Grof coordenou mais de quatro mil sessões de LSD em dezenas de milhares de pessoas, pacientes ou voluntários, os quais lhes forneceram extenso material, que o levou a descobertas revolucionárias sobre o psiquismo. 
 Ele concluiu que o LSD e demais alucinógenos, como a psilocibina, a mescalina, a triptamina e semelhantes, funcionam como amplificadores e catalisadores das atividades psíquicas, capazes que são de abrir a consciência para percepções incomuns e precipitar experiências espirituais extraordinárias, fazendo emergir conteúdos inconscientes que jamais seriam explorados de outra forma. img
Além disso, o espírito investigador de Grof o levou ao contato com xamãs de toda a América e a trocar informações com antropólogos e representantes de antigas doutrinas, como o yoga, o budismo, o tantrismo, o zen e a ordem beneditina, entre outras. O médico interessou-se ainda pela parapsicologia, focalizando-se em experiências do quase-morte. 
Na mecânica quântica, encontrou base científica para várias concepções cosmológicas religiosas, incluindo a possibilidade de curas espirituais, além da crença fundamental de que algo, de alguma forma, sobrevive à morte física.
Em fins dos anos 60 e início dos anos 70, aplicou a terapia psicodélica em pacientes cancerosos terminais.
Em Psicoterapia pelo LSD, 1980 (não traduzido), descreveu detalhadamente as pesquisas que o conduziram à certeza de que os alucinógenos, longe de seu propagado caráter tóxico, podem ser administrados de modo diligente, não indiscriminadamente a todo e qualquer caso, mas sob supervisão de terapeutas preparados, visando a uma profunda reformulação do universo psicológico daqueles que os usam, de modo que muitos aspectos da personalidade que requeiram tratamento possam ser especialmente trabalhados.
As portas da percepção são os sentidos, quando se os transcende, tudo o que resta é o infinito, escreveu o poeta britânico William Blake, adepto do haxixe.
 A frase inspirou seu conterrâneo Aldouus Huxley que intitulou Portas da Percepção o livro em que narra suas experiências sistemáticas com a mescalina.
 O tema fora introduzido no Admirável Mundo Novo e voltaria a ser explorado no romance A Ilha.
 A mescalina é o alucinógeno extraído do peiote, o mesmo cacto mexicano que proporcionou a Carlos Castañeda compor sua extensa obra de ensinamentos recebidos de seu mestre índio Don Juan. 
Mas Huxley também experimentaria o LSD; quem ofereceu a ele foi o psiquiatra inglês Humphry Osmond, outro pesquisador que se valia do ácido para fins terapêuticos, na Universidade de Saskatchewan, criador do termo "psicodélico" (do grego psico = alma, mente+delos = manifestação, evidência).






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