sábado, 27 de junho de 2015

RELATO DE STANLEY KRIPPNER




Stanley Krippner é um dos grandes pesquisadores mundiais sobre estados alterados de consciência
. Ele deu uma entrevista em 1990, que quero compartilhar alguns trechos:
img

Fiz pesquisas no campo das curas entre povos nativos e indígenas e curas entre distintas culturas, quando escrevi um livro sobre estados Alterados de Consciência. essa obra contém um capítulo chamado : "Um chamado para curar", que é o resultado de meus encontros com 40 curadores populares do Brasil, ligados ao candomblé, à umbanda, ao kardecismo e a várias outras tradições.
 Pude então identificar cinco meios diferentes pelos quais tais pessoas são motivadas a curar, e os que são mais frequentes.
As motivações mais comuns são os "Chamados" em sonhos e em Estados Alterados de Consciência. 
Defino xamãs como homens e mulheres que foram socialmente designados por uma tribo ou comunidade para praticar aconselhamento, curas, terapias e coisas assim.
 Essas pessoas alteram deliberadamente suas consciências para entrar no mundo espiritual, de onde trazem poder e informações para servir ao seu grupo.
Os EAC´s são indispensáveis para o xamanismo e podem surgir de várias maneiras, tais como por plantas de poder, pelo jejum, sonhos controlados, danças ritualísticas.
 Os xamãs que fazem uso de plantas de poder, ao meu ver, procuram fazê-lo de modo seguro, visando fins espirituais.
 Não tenho nenhuma objeção a isso.
Nas Américas, é, certamente, um meio frequente e bem eficiente para os xamãs, e tem propiciado a realização de belíssimos trabalhos artísticos e interessantes aprofundamentos filosóficos.
Toda a realidade é uma.
 Penso que os xamãs que usam plantas de poder para chegar em EAC, ou por qualquer outro meio, conseguem notar fenômenos que não perceberiam de outra maneira.
 É costumeiro verem cores e formas diferentes, aromas e odores diversos e sons distintos.
 Eles tem maneiras diferenciadas de sentir a natureza e de compreender as outras pessoas.
 Trata-se de uma expansão da percepção da realidade que está sempre ao nosso redor.
Considero o Dr. Albert Hoffman, o descobridor do LSD, um dos grandes sábios do mundo ocidental. Grande inteligência, é que é mais importante, de grande integridade. 
Não foi apenas o descobridor do LSD, mas colaborou em estudos históricos, sugerindo, por exemplo, que os rituais misticos da antiha Grécia eram dinamizados por um fungo alucinógeno que cresce no centeio.
 Seus escritos filosóficos acerca de suas experiências com o LSD são muito profundos e repletos de sabedoria. Pessoas como o Dr. Hoffman poderiam ensinar aos demais indivíduos o caminho apropriado de usar tais substâncias. Apesar de não ser um xamã, ele tem o que chamaria de "sensibilidade xamânica", num grau inigualado por qualquer outra pessoa no Ocidente.
Ao ser questionado se já tinha experimentado alucinógenos, Krippner respondeu :
Experimentei todos ! Nas poucas vezes que tomei tais substâncias felizmente me saí muito bem, com uma ampliada apreciação da natureza. 
 Devo dizer que sempre fiz as experiências ao ar livre, após uma preparação e sob supervisão de pessoas experientes, capazes de nos guiar no caso de qualqer emergência.
img


Certamente, as experiências aumentaram a minha consciência social, tornando-me mais ativo na defesa do meio ambiente, das florestas tropicais e dos povos indígenas.
 Melhoraram a minha maneira de apreciar as artes e a música, uma vez que afetaram a minha sensibilidade estética.
Tive ainda muitas idéias criativas que pude empregar na vida cotidiana e senti que meu relacionamento com os amigos que me acompanharam na experiência tornou-se mais fluido.
Continuando a entrevista com Krippner, foi perguntado a ele, se existe alguma perspectiva de a humanidade aprender a usar corretamente substâncias psicoativas :
" Reparei o abuso dessas substâncias em quase todos os lugares pelos quais venho viajado, principalmente nos países chamados "civilizados" ou industrializados, e não vejo muita esperança (13 anos atrás) de que uma abordagem mais racional possa ser feita, até porque envolve questões políticas. Existem pouquíssimos lugares no mundo em que alucinógenos podem ser usados, por exemplo em psicoterapia.
 A Suíça é um deles, graças ao Dr. Hoffman.
Em países como os EUA, os alucinógenos tem sido igualados e confundidos com outras drogas, quase que ignorando as grandes diferenças entre as várias substâncias psicoativas. 
Lá, a reação das autoridades tem sido incorreta, a meu ver.
 Gasta-se muito dinheiro para perseguir fabricantes, traficantes e consumidores de drogas, bem como para destruir depósitos e plantações, mas pouco é destinado para a educação e tratamento dos drogados.
Muitos confundem drogas como a heroína e a cocaína com a substância advinda dos cogumelos sagrados, do cacto peiote e a ayahuasca, que são coisas bem distintas.
Não sou, obviamente simpatizante dos traficantes, mas não posso virar as costas para o fato de que, por exemplo, os EUA vendem muitos cigarros de tabaco para a Colômbia e matam mais colombianos com o tabaco do que estes matam americanos com cocaína.
Não sou defensor irrestrito da maconha, mas sou obrigado a encarar o fato de que é uma droga incomparavelmente menos prejudicial em sua capacidade de viciar e matar pessoas do que o cigarro.
Tomei ayahuasca e tive uma experiência muito agradável, num ambiente muito propício.
 Acho que os ayahuasqueiros do Amazonas estão usando a planta de uma forma muito séria e sábia, embasados numa longa tradição.
O movimento Santo Daime é muito interessante, apesar de não ser o autêntico ritual usado no Amazonas. Fico satisfeito em saber que os grupos de Daime não estão sendo perseguidos no Brasil.
Lí todas as obras de Carlos Castañeda. 
Trata-se de uma literatura muito boa, mas não enquanto estudo antropológico.
 Há erros de cronologia e na descrição de costumes indígenas.
 Tenho dúvidas que tenha existido um Dom Juan, mas acho que os livros contém maravilhosos ensinamentos e podem ajudar as pessoas a encontrar seus caminhos neste mundo tão confuso e conturbado.

FISICA XAMÂNICA E REALIDADE MÍTICA

img 
As ondas quânticas são invisíveis.
 São indutos do pensamento humano necessários ao nosso mundo moderno para permitir a compreensão da matéria atômica e subatômica.
 Sem embargo, ainda que cremos nelas, não as temos observado realmente. São parte de um sistema físico mítico. 
Por mítico que sejam, são vitais.
 Sem elas não há como compreender o universo.

Num sentido real, as ondas quânticas são fantasmas no seio de uma maquina da realidade.
Para os físicos sua existência é parecida com a existência de espíritos para os xamãs.

Atualmente poucas pessoas do mundo moderno creem nos espíritos do xamanismo.
 Os xamãs vêem o mundo de um modo distinto.
 De algum modo os xamãs são capazes de observar o mundo através de mitos e visões que em princípio, parecem contrários às leis físicas. 
São capazes de observar além da barreiras habituais que reprimem nossas mentes ocidentais.
 Em que consistem as visões dos xamãs ? Como se criam ? Estas visões xamânicas configuram a base para nossos mitos e histórias ?

Suspeito que no nível mítico da realidade, desde que foi escrito durante milênios, pode falar-se nas percepções dos xamãs sobre passado e futuro. Talvez em cenas míticas, visto que essas cenas são superposições de acontecimentos tomados dos passado e futuro da cultura.
Como alguém pode ver o futuro ? Tenho algumas idéias a respeito. Escrevi algo em meu livro : Universos Paralelos.
 Resumindo, segundo a interpretação transacional da física quântica, estas ondas de probabilidade quântica invisíveis se originam no presente, no passado e futuro.
 Para que se manifeste qualquer acontecimento, estas ondas provenientes do futuro e do presente, do passado e presente, devem interferir uma com as outras no presente.
O padrão dessa interferência cria então, a matéria e a energia tal como percebemos.
De algum modo os xamãs são capazes de ver tanto as fontes passadas como futuras destas ondas. Desta forma são capazes de construir visões que tenham, proporções míticas e aparecem ante a eles como arquétipos no sentido junguiano.
Todos nós sonhamos.
 Segundo Jung, em muitas ocasiões nossos sonhos estão cheios de imagens arquetípicas.
 Por exemplo, todos nós temos sonhado algumas vezes que voamos pelo ar, sem nenhum tipo de instrumento mecânico.
 Suspeito que os xamãs são capazes de alterar a sua consciência invocando à vontade imagens arquetípicas.

img

Creio que todos temos essa capacidade, mas para isso necessitamos aprender a alterar nossa consciência, um tema delicado para nós.
Algumas culturas tem utilizado, através da história, de substâncias que alteram a mente como guia visionária e espiritual .
Nossa cultura parece ter perdido o propósito que se manifesta como desejo por drogas e álcool.

Os xamãs percebem a realidade em estado de consciência alterada. 
Penso que se requer um papel para a consciência ordinária em qualquer modelo correto da física quântica.
 Nada pode escapar ao efeito do observador; em todo o momento há a eleição do observador para medir uma propriedade particular de um sistema de força e emergir um estado de probabilidade real.
 Isso é um ato de observação de um acontecimento quântico.
 Então, a consciência é capaz de ser compreendida, possivelmente do mesmo modo que entendemos a matéria, por meio da física quântica.
Assim, os xamãs se movem em distintos e amplos estados de consciência. Talvez os xamãs manipulem a matéria e a energia mediante certo poder observador quando estão num estado alterado de consciência.
Seguindo a senda que nos proporciona o efeito de observador, surge outra hipótese : os xamãs utilizam qualquer estratégia para alterar a crença de seus pacientes acerca da realidade.
 O velho provérbio diz "ver para crer".
 A realidade xamânica dá uma volta : A gente só vê o que crê.
Os xamãs podem trabalhar no cerne das estruturas das crenças de um paciente com o fim de colocá-los além delas.
 Na hora de curar um paciente difícil, podem criar um truque com o fim de alterar as fixações.
Comprovei que alguns xamãs utilizam alguns truques, mas esses truques não são o que parecem para ascéticos. pelo contrário, talvez o truque é o efeito do observador em ação.
Tanto o xamã como a pessoa curada devem estar convencidos de que os poderes xamânicos existem, ainda que se utilizem truques com pacientes particularmente difíceis.











Nenhum comentário:

Postar um comentário