quarta-feira, 3 de setembro de 2014

INSPIRAÇÃO SAGRADA


 

Awen / Imbas: Inspiração Sagrada

Toda religião possui uma palavra-chave: para o budismo, a Iluminação; para o cristianismo, a Salvação, e assim por diante. Para a espiritualidade celta, essa palavra é Inspiração.
A palavra galesa Awen já foi traduzida como “espírito que flui” através de nós, ‘êxtase poético’, arrebatamento profético e até mesmo como “musa” – o espírito feminino que, entre os gregos, inspira as artes. A chave para a compreensão da real natureza da Awen é a palavra inspiração.
Inspirar é receber algo, introjetando-o. Tal como o ar que inspiramos e que enche nossos pulmões, a Awen nos toca, nos estimula, nos transforma. Similarmente, da mesma forma que temos de expelir o ar de nossos pulmões para continuarmos vivos, a Awen – a inspiração que recebemos – deve ser transformada em ação. De espírito para espírito, de alma para alma.
Awen, portanto, é o espírito que flui através de nós – é a ‘musa’ que inspira nossas ações e reações. Quando reconhecemos a presença do espírito em tudo (animismo), possibilitamos o contato profundo entre cada um de nós e “o outro” – seja o outro em questão uma pessoa, outro animal, uma paisagem, um nascer do sol, um lugar, um prato de alimento, nosso trabalho.

De Alma para Alma
O conceito irlandês do Anam Chara, “o amigo de alma”, é tipicamente celta e ilustra bem isso. Tal conceito ganhou visibilidade em nossos dias graças ao trabalho do inspirador filósofo e poeta irlandês John O’Donohue. Segundo seus textos, um Anam Chara é uma amizade no sentido mais profundo da palavra, em que duas almas se tocam não no nível intelecutal ou no físico apenas: a união ocorre no misterioso e transformador nível da alma. “Ao romper as barreiras da persona e do egoísmo e alcançado o nível da alma”, diz O’Donohue, “uma união de almas nesse nível não se quebra facilmente”.
Anam Chara é uma ligação de alma para alma, inspirada e inspiradora, entre duas pessoas. Mas o conceito fundamental dessa ligação de alma para alma pode ser extendido para qualquer tipo de relação: pessoa-pessoa, pessoa-outro animal, pessoa-objeto, pessoa-trabalho, pessoa-conceito, pessoa-paisagem. Quando ocorre esse contato, flui a inspiração.
O termo ‘awen’ vem do idioma galês – seu equivalente irlandês é a palavra Imbas, geralmente traduzida como“inspiração/conhecimento poético”. Em diversos relatos, Awen/Imbas é algo a que o druida/poeta tem acesso ao desempenhar procedimentos específicos. Awen/Imbas é um conceito abstrato: é como uma sinapse que nos une aos diversos aspectos do universo: é através dela que nos relacionamos, estabelecendo vínculos, pontes e interconexões com todos e cada um dos aspectos de nossas vidas, ressacralizando-a.

Quando conhecemos algo, entramos em relação com esse algo.– John O’Donohue

Seja no nível pessoal (psicologia) quanto no coletivo (sociologia), relacionar-se com “o outro” é uma das primeiras lições que um indivíduo deve aprender. Em nossos primeiros meses de vida, ainda não somos capazes de identificar a separação individual entre mãe e filho. O processo de individuação é fundamental para o desenvolvimento saudável da psique de cada um de nós. O mesmo processo ocorrerá mais tarde num outro nível, quando passamos a identificar o que é nosso e o que é dos outros – algo válido tanto para objetos quanto para idéias, conceitos e opiniões; é o processo formativo da identidade individual de cada um de nós. Ao resgatar a sacralidade das relações, a Alma Celta propõe uma melhor formação individual, bem como uma melhor compreensão de quem de fato somos – eis porque os celtas reverenciavam suas Ancestralidades.


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